
Quando penso no início do Comunicarparece até que foi outra pessoa que começou tudo isso. Eu não tinha planos de criar nada ligado à comunicação ou para educação. Minha vida seguia outro rumo, até que, de repente, tudo mudou.
Em outubro de 2023, meu pai, Laudarciasofreu um Túmulo AVC. Em poucos minutos, o homem cheio de histórias e risadas que eu conhecia perdeu a fala, a mobilidade e parte da compreensão do mundo ao redor. Ver alguém que você ama ficar preso dentro do próprio corpo é algo que nenhuma explicação médica te prepara.
Os dias passaram a ser marcados por silêncios, tentativas e olhares que diziam o que as palavras não conseguiam. E foi nesse desespero silencioso que nasceu o Comunicarnão como um projeto, mas como um gesto.
Passei noites pesquisando até descobrir o conceito de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA)que utiliza símbolos, imagens e sons para ajudar pessoas com limitações de fala a se expressarem. Encontrei ferramentas existentes, testei todas, mas nenhuma atendia o que meu pai precisava. Então, mesmo sem saber direito por onde começar, decidi criar uma.
A primeira versão do Comunicar era simples, feita só para ele. Eu queria que ele pudesse dizer “água”, “fome”, “banheiro” ou mostrar onde estava doendo. Cada detalhe tinha um propósito: tentar devolver a ele um pedaço da autonomia que o AVC levou.
+Leia também: Ele é médico e tem Parkinson: “IA me ajuda a seguir atendendo”
De ideia caseira a ferramenta inclusiva
Com o tempo, o projeto cresceu e eu cresci junto. Minha prima e sócia, Luana Meloentrou para me ajudar a organizar e expandir o que até então era uma ideia caseira. Começamos a mostrar o Comunicar para fonoaudiólogos, cuidadores e profissionais de saúde e educação.
Foi emocionante ver uma fonoaudióloga usando o Comunicar com uma criança autista não verbale mais ainda quando comecei a receber mensagens de familiares contando que o site estava ajudando de verdade.
Uma das histórias que mais me marcou veio de um homem que usava o Comunicar com sua esposa, após o segundo AVC. Através da ferramenta, ela conseguia se comunicar com ele e com o filho. Saber disso foi indescritível.
O projeto cresceu além da dor
Infelizmente, com o avanço da condição do meu pai, ele foi deixando de usar o sistema. Mas o projeto cresceu além de nós. O que nasceu para ele, se tornou por ele.
Hoje, o Comunicar é uma ferramenta gratuita o que ele usa inteligência adaptativa para montar frases, sugerir palavras e emitir sons que representam emoções e necessidades. Está sendo usado não só por vítimas de AVC, mas também por fonoaudiólogos, psicopedagogos e professores.
Comunicação inclusiva nas escolas
Recentemente, o Comunicar começou a ser usado em uma escolao que me enche de esperança. Criamos modos específicos para a área da educação, com blocos interativos, cores e sons pensados para estimular a fala e o aprendizado de crianças com limitações de comunicação.
Meu sonho é que mais escolas adotem o Comunicar, para que nenhum aluno fique em silêncio por falta de recursos. Porque acredito profundamente que a comunicação é um direito básico, e ninguém deveria pagar para poder dizer o que sente.
E parte do futuro do projeto para a área da saúde também já está sendo desenhado. Estamos trabalhando em um Modo Inclusivoque permitirá que o usuário utilize o Comunicar sem precisar das mãos, apenas com movimentos da cabeça ou dos olhos.
Esse modo está sendo desenvolvido especialmente para pessoas com mobilidade reduzida ou paralisia severae representa mais um passo no propósito de tornar a comunicação realmente acessível para todos.
O Comunicar nasceu de um momento de dor, mas se transformou em algo que carrega amor, empatia e propósito. E para usar, basta acessar comunicarfacil.com.br de qualquer lugar, sem login, sem instalação e de forma totalmente gratuita.
No fim, aprendi que, às vezes, a forma mais bonita de lidar com as próprias dores é transformá-las em algo que ajude outras pessoas.
*Otávio Melo é designer gráfico e criador da ferramenta comunicarfacil.com.br
Compartilhe essa matéria via:









